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Helena - Romance de Machado de Assis

 

Thales Pan Chacon e Luciana Braga em Helena (TV Manchete, 1987)


Helena, o terceiro romance de Machado de Assis, lançado em 1876, foi para a crítica, uma escapada do autor ao seu estilo próprio, que vinha sendo formado, para mergulhar no romantismo clássico e apreciado pelo público. Eu, porém, que aprecio o que foge às definições, tive mais prazer em ler este romance que seus precedentes Ressurreição e A Mão e a Luva.

A história é extremamente familiar e apresenta problemas que, numa primeira visão, parecem relativamente comuns às famílias de então e de agora, não fosse pelo desenrolar da trama. Seus personagens, tão cativantes como comuns, nos preparam o tabuleiro para o jogo das relações:

- O Conselheiro, defunto de porta do romance, cuja morte é causa primeira do progressivo prazer do leitor.

- Sua irmã, Dona Úrsula, que "era eminentemente severa a respeito de costumes" (Cáp. II).

- Seu filho Estácio, que áspero consigo, sabia ser terno e mavioso com os outros (Cáp. II).

- O paternal Padre Mestre Melchior, "homem de sua Igreja e de seu Deus, íntegro na fé, constante na esperança, ardente na caridade" (Cáp. IV).

- Dr. Camargo, "pouco simpático à primeira vista. Tinhas as feições duras e frias. Amava sobre todas as coisas e pessoas sua filha única Eugênia, flor de seus olhos" (Cáp. I) e D. Tomásia, sua esposa.

- Os amigos da famílias, Dr. Matos, o velho advogado; D. Leonor, uma das belezas do primeiro reinado e Cor. Macedo, que na verdade era major (Cáp. IV).

Mendonça, amigo de Estácio, galhofeiro, agradável e aceito. Homem de afeições inalteráveis e fieis. Capaz de sacrifício e dedicação (Cáp. X).

- A amável protagonista, Helena, cujas linhas puras e severas do rosto parecia que as traçara a arte religiosa" (Cáp. III); menina "dócil, afável, inteligente" que "conseguiu polir os ásperos, atrair os indiferentes e domar os hostis" (Cáp. IV).

- Vicente, o escravo, "fiel servidor de Helena e seu advogado convicto nos julgamentos da senzala" (Cáp. IV).

- Salvador, pobre acolhedor do próprio destino.


CITAÇÕES

"Também a dor tem suas volúpias" (Machado. Cáp. I)

"A tristeza é necessária à vida" (D. Tomásia. Cáp. I)

"As dores alheias fazem lembrar as próprias, e são um corretivo da alegria, cujo excesso pode engendrar o orgulho" (D. Tomásia. Cáp. I)

"Deixemos a cada idade a sua atmosfera própria" (Camargo. Cáp. I)

" A sensibilidade não pode usurpar o que pertence à razão" (Dr. Camargo. Cáp. II)

"A asa do tempo leva tudo" (Machado. Cáp. III)

"Pois deixe que a convivência faça falar o coração" (D. Úrsula. Cáp. III)

"Coração de velha é casa arruinada." (D. Úrsula. Cáp. III)

"O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito desfaz-se; basta a simples reflexão" (Helena. Cáp. V)

"A riqueza compra até o tempo, que é o mais precioso e fugitivo bem que nos coube" (Estácio. Cáp. V)

"A rigor, o tempo corre do mesmo modo, quer o desperdicemos, quer o economizemos. O essencial não é fazer muita coisa no menor prazo; é fazer muita coisa aprazível ou útil" (Helena. Cáp. V)

"É que sou uma pobre alma lançada num turbilhão" (Helena. Cáp. V)

"Também a dor tem suas hipocrisias" (Estácio. Cáp. VI)

"Os homens sérios tem preconceitos extravagantes" (Helena. Cáp. VIII)

"O casamento não é uma solução, penso eu; é um ponto de partida" (Helena. Cáp. VIII)

"Do sacrifício recíproco é que nasce a felicidade doméstica" (Helena. Cáp. VIII)

"Era melhor adorar de longe a imagem da moça do que ir colher algum desgosto junto a ela" (Machado sobre Estácio. Cáp. VIII)

"O melhor modo de viver em paz é nutrir o amor-próprio dos outros com pedaços do nosso." (Estácio. Cáp. IX)

"A beleza é como a bravura; vale mais se não a metem à cara dos outros" (Estácio. Cáp. IX)

"O casamento é a pior ou a melhor coisa do mundo; pura questão de temperamento" (Mendonça. Cáp. X)

"O filósofo continuou a ler, e o cavalo continuou a andar" (Machado. Cáp. XI)

"O coração tem leis especiais" (Camargo. Cáp. XII)

"A beleza dolorida é dos mais patéticos espetáculos que a natureza e a fortuna podem oferecer à contemplação do homem" (Machado. Cáp. XIII)

"A prece é a escada misteriosa de Jacó: por ela sobem os pensamentos ao céu; por ela descem as divinas consolações". (Machado. Cáp. XIII)

"Vinte e quatro horas não é muito para quem tem de amarrar-se eternamente" (Estácio. Cáp. XIII)

"Todo incômodo é aprazível quando termina em legado" (Machado. Cáp. XIV)

"O amor não é mais que um instrumento de escolha; amar é eleger a criatura que há de ser companheira da vida." (Helena. Cáp. XVI)

"Uma moça que quer ser noiva vale por um exército; eu sou um exército" (Helena. Cáp. XX)

"Quem sabe porque fios tênues se prendem muitas vezes aos acontecimentos humanos?" (Machado. Cáp. XX)

"A suspeita é a tênia do espírito; não perece enquanto lhe resta a cabeça." (Machado. Cáp. XX)

"Nenhuma precaução é inútil em coisa nenhuma da vida" (Salvador. Cáp. XXI)

"Ouro é o que ouro vale" (Salvador. Cáp. XXI)

"O passado é um pecúlio para os que já não esperam nada do presente ou do futuro." (Salvador, Cáp. XXVI)

"Se o homem se habitua ao mal e à dor, por que não há de acostumar ao prazer e ao bem?" (Salvador. Cáp. XXVI)

"Há sonhos que deviam acabar na realidade de outro século" (Machado. Cáp. XXIII)

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